Carlos Paredes
Carlos Paredes: O Som Que Fez Portugal Parar Para Ouvir
Quem alguma vez estava sentado no café de Lisboa com o cheiro a café e de repente surge um dedilhar de guitarra portuguesa? O som que parece que chora baixinho e que tudo à volta para apenas para ouvir o som puro. Mas na verdade apesar de conheceres o sonoridade, não conheces quem a produziu. Na verdade, essa música tem um um dono e chama-se Carlos Paredes. Ele nunca se preocupou muito em ser conhecido, mas a música fez esse trabalho por ele.
Um homem entre pastas e partituras
Carlos Paredes nasceu em 1925, em Coimbra, mas é Lisboa que o recebe, a si e ao seu talento. Já muito novo, Carlos ouvia o seu pai, Artur Paredes que já era uma referência da guitarra Portuguesa. Mas Carlos… Carlos herdou a experiência do seu pai e levou o instrumento a uma importância que este nunca tinha tido.
No entanto, enquanto tocada alguns dos temas que ficaram para a história, era durante um dia um mero arquivista nos Arquivos Hospitalares de São José. Sim, um arquivista. Na altura, era difícil para estes músicos viverem apenas da música então Carlos passava horas a fio entre papeis clínicos, desejando à noite voltar para a sua guitarra.
Para muitos a música seria o seu segundo trabalho, mas para ele claramente que foi o que o tornou imortal.
Quando a guitarra diz tudo
Existem músicas que se ouvem e outras que se sentem. Para Carlos Paredes a segunda foi sempre a única opção.
Ele não compunha apenas canções, contava histórias sem palavras. Apenas com as cordas da sua guitarra, conseguiu obter uma sensibilidade que mais ninguém conseguiu repetir. As suas peças traziam a magia da saudade. E talvez por essa razão a sua música tornou-se intemporal.
Fama? Só a da boa
Num tempo em que não existiam redes sociais, Instagram, Tik Tok, o que interessava não era o homem mas sim o que o homem fazia. Ele nunca quis ser a estrela, não andava em festas, não queria publicidade e não precisava do branding pessoal tão normal nos dias de hoje.
Apesar da humildade, Carlos Paredes sempre foi ouvido em todo o lado, desde salas de concerto cheias até a rádios locais. De ministros até ao trabalhador comum. Todos respeitavam Carlos Paredes. E nessa altura era difícil de agradar a “gregos e a troianos”.
No entanto, apesar do respeito que granjeava, foi preso pela PIDE por pertencer ao Partido Comunista. No entanto, nunca usou isso como bandeira, não precisando de palavras para comunicar. Fazia-o através da música.
“Verdes Anos”: Quando a juventude se ouve
No entanto, houve uma música de Carlos Paredes que conheças sem saber: “Verdes Anos”. Esta música é quase um hino que continua a atravessar várias gerações.
“Verdes Anos” nasceu como um tema do filem com o mesmo nome realizado por Paulo Rocha em 1963. A história, simples mas crua, acompanhava dois jovens à deriva na Lisboa de então. Era uma juventude suspensa numa cidade cheia de promessas. É ali que Paredes faz muito mais do que acompanhar as cenas. Ele “fala” por elas.
Existem muitas pessoas que ouvindo a música pela primeira vez falam logo em saudade. Mas não é a saudade de uma pessoa ou de um lugar. É saudade de um tempo; um tempo que podia ter sido.
A beleza do tema “Verdes Anos” é que ela não precisa do filme para nos emocionar. Basta fechar os olhos e deixarmo-nos levar.
Hoje em dia, “Verdes Anos” continua a ser utilizada em filmes, séries e campanhas publicitárias, e não é porque é apenas uma música orelhuda. É porque funciona, porque mexe com o nosso emocional.
Uma herança silenciosa (mas constante)
Talvez nunca tenhas ouvido um disco completo de Carlos Paredes, ou que o Spotify nunca te tenha sugerido. Mas já o ouviste certamente em filmes, documentários ou anúncios da TV. Está escondido, mas está lá quase sempre quando se fala de Portugal de outros tempos.
A guitarra de Carlos Paredes tornou-se o pano de fundo para gerações inteiras com melodias simples que ficam mesmo sem sabermos porquê.
E não é apenas no ouvido do povo, mas também como de artistas contemporâneos como Ana Moura ou Stereossauro que o referem como inspiração. A guitarra tornou-se importante num tempo em que as estrelas eram os fadistas.
Da rádio à prateleira da memória
Muitas vezes perguntamos porque é que continuamos a manter alguns cds antigos guardados. Muitas vezes porque são temas que valem a pena ser ouvidos várias vezes como se seja um loop de “música a sério”.
A tecnologia avançou, muitos músicos apareceram e desapareceram mas obras como as de Carlos Paredes mantêm-se pela sua beleza própria.
Hoje em dia até pode ser ouvido em fundo em alguns vídeos do tik tok, ou o Youtube sugere a sua gravação ao vivo no coliseu como algo importante para “Parar e Ouvir”.
Um silêncio que continua a dizer tudo
Carlos Paredes morreu em 2004, depois de ser condecorado pelo Presidente da República , e mesmo não sendo homens de muito destaque, continua a brilhar na casa e na cabeça de cada um de nós sempre que “Verdes Anos” toca relembrando a nostalgia de outrora.
Carlos Paredes nunca quis ser uma lenda, apenas queria tocar, mas como acontece com os verdadeiros artistas rapidamente se tornou os dois. Se tivesse vivo, faria 100 anos, mas haverão de passar mais 20 50 100 anos, e a nostalgia será sentida como a música mais portuguesa que existe.
Não só no tempo em que se chorava quando se passava a fronteira para sair do país, mas hoje em dia quando é ouvido algures por todo o mundo, onde a música é reconhecida como símbolo de harmonia perfeita entre um homem e a guitarra portuguesa.