Doce

Doce: O grupo que revolucionou a música nos anos 80

Se há algo que marca uma geração, é a música que a embala. Nos anos 80 poucos nomes foram tão marcantes na música nacional quanto as Doce. A banda pop portuguesa, composta apenas por mulheres, não conquistou apenas corações, mas também desafiou convenções e deixou uma marca importante na história musical do país.

O Nascimento das Doce

A história das doce começa a Setembro de 1979. O compositor Tozé Brito, inspirado pela energia do grupo Gemini, pensou numa formação feminina que pudesse ter o mesmo sucesso no cenário musical português.

Com o apoio do empresário brasileiro Cláudio Condé, presidente da Polygram, nasceu o quarteto “Doce”. Este era composto por Fá (Fátima Padinha), Teresa Miguel, Lena Coelho e Laura Diogo. Com excepção de Laura, que era modelo e Miss Fotogenia no concurso Miss Portugal de 1979, todas as outras integrantes já tinham experiência no mundo musical tendo passado por grupos como Gemini ou Cocktail.

O Estilo e a Imagem

As Doce não eram apenas uma banda. Era um espetáculo visual e sonoro. Ao contrário dos tempos que se viviam no pós-revolução, as doce traziam trajes ousados, coreografias sensuais e uma postura confiante, algo que não era abundante na mulher portuguesa da altura.

As suas atuações no palco eram marcadas por uma energia contagiante que cativava o público, provocando muitas reações no público. A escolha de roupas provocantes juntas com movimentos sensuais, geraram bastante controvérsia, mas também consolidaram como sendo as pioneiras na afirmação da mulher no palco.

O Sucesso Nacional e Internacional

Em 1980 lançaram o seu primeiro sucesso “Amanhã de Manhã”. Este tema rapidamente foi um dos maiores sucessos do ano em Portugal. Neste ano participam pela primeira vez no Festival da Canção com a música “Doce” ficando pelo segundo lugar.

O seu primeiro álbum “OK.KO.” lançado em 1980 tinha entre as faixas já referidas outras como “Café com Sal” e “O Que Lá Vai Lá Vai”. No ano seguinte, voltam ao Festival da Canção com “Ali-Babá – Um Homem das Arábias”, e apesar de não vencerem o concurso, obtêm um estrondoso êxito comercial com este tema.

Em 1982, lançam o seu segundo álbum “É Demais” tendo existido uma mudança na imagem do grupo, levando ainda a um maior destaque na música portuguesa da altura. Nesse ano, vencem finalmente o Festival da Canção com o tema “Bem Bom” representando Portugal no Festival Eurovisão da Canção. O tema torna-se um sucesso internacional, tendo sido lançada em vários países. As Doce tornam-se uma das primeiras girls band europeias a ter sucesso fora do seu país.

Controvérsias e Desafios

O sucesso das Doce não veio sem desafios. Ao longo da sua curta carreira, o grupo sofreu duras críticas graças à sua imagem e estilo provocador, sendo alvo na imprensa e no público. Um dos episódios mais comentados foi o “boato das Doce” que envolveu um dos seus membros.

Apesar de nunca ter sido confirmada, a história tornou-se bastante mediática tendo afetado a imagem do grupo. Mais tarde houve várias alterações no grupo tendo saído Fá, e Lena Coelho ter sido substituída por Fernanda de Sousa(mais conhecida por Ágata). Em 1987, é oficializado o seu fim com o lançamento da compilação Doce 1979-1987.

Legado e Reconhecimento

Apesar de uma carreira relativamente curta, as Doce deixaram um legado vasto para a música portuguesa. As suas músicas continuam a ser lembradas e reinterpretadas, e o grupo continua a ser homenageado em programas da televisão.

Mas o impacto das Doce vai muito além da música. Permitiu a que muitas mulheres pudessem ver a música como um futuro, afastando-se do fado ou da música ligeira, géneros onde a mulher era vista na música antes dos anos 80.

Apesar de terem tido apenas dois álbuns de originais, a sua presença sempre bastante ousada nos ecrãs da televisão nacional, fez das doces as vanguardistas da música nos anos 80. As múltiplas homenagens que foram feitas ao longo dos anos bem como as 6 compilações que foram feitas dos seus temas, quando tiveram pouco mais de duas dezenas de originais fará pensar como é que estes fenómenos pop podem ser importantes para a cultura de um país.

O Filme

Em 2021 surge o Filme “Bem Bom, com o apoio da MEO, realizado por Patrícia Sequeira. A longa metragem mostra o dia a dia, os problemas e o fim das Doce, mostrando não só a parte positiva e nostálgica mas alguns dos dramas que o grupo viveu durante o seu auge.

Os Tributos

Não será de estranhar num período onde a nostalgia é valorizada e que os grupos de tributos surgem como cogumelos que mais dia menos dia não surja um grupo de tributo ás Doce. Entre tantos artistas de quem se conhece uma ou outra música, seria interessante ver a adesão do público ao ver novamente as Doce em palco, cantando os êxitos de outrora. Faria certamente a felicidade de miúdos e graúdos que cresceram a ouvir os temas das Doce um pouco por todo o lado.

E se ainda está em dúvida do que ouvir num dia de festa, o que por naquela playlist de música ligeira portuguesa, que tal selecionar umas quantas músicas das Doce, e ver a reação dos seus amigos. Mesmo os mais snobs não vão se conter e vão começar mais não seja a bater o pé recordando o tempo que eram mais novos e que ouviram o grupo dos anos 80 que palmilhou Portugal de lés a lés a mostrar que a revolução não era apenas para ser feita na política mas também na mentalidade dos portugueses.

E sim, os temas dos álbuns das Doce estão disponíveis em qualquer plataforma digital, prontos a serem ouvidos e a entrar no comboio da nostalgia directamente para o início dos anos 80.