A internacionalização da música portuguesa
Quando o Som Vai Mais Longe
A música portuguesa começou pouco a pouco a sair das fronteiras nacionais. Se antigamente era apenas o fado que saía para outros países, e outras latitudes, hoje em dia, já são vários os géneros que são bastante apreciados a nível internacional.
A língua poderia ser uma das maiores dificuldades na internacionalização e exportação da música nacional. No entanto, com o passar dos anos, os artistas nacionais conseguiram contornar esse problema, dando uma sonoridade diferente às músicas nacionais, ou mesmo levando a que muitos artistas nacionais cantassem em inglês de forma a que pudessem chegar a públicos internacionais.
No entanto, os primeiros artistas a brilharem lá fora não precisaram de adaptar os seus temas para o inglês, para terem um grande sucesso, levando a ter mais concertos fora de fronteiras do que aqueles que tinham em Portugal.
Amália: Quando o fado saiu das fronteiras pela primeira vez
Um dos primeiros expoentes da música nacional que saiu pelo mundo foi Amália Rodrigues. Para quem pensa que Amália viajou apenas pelo Brasil e pelas colónias, fique-se a saber que Amália Rodrigues não só actuou em vários palcos internacionais como gravou vários álbuns entre 1957 e 1984 em vários dos grandes palcos mundiais.
O Olympia em Paris, Japão, ou a Broadway foram apenas alguns dos locais escolhidos pela rainha do fado para gravar algumas das suas icónicas canções. Nesse tempo, Portugal era conhecido por Amália Rodrigues na música e por Eusébio no futebol. Numa altura em que não existia internet ou redes sociais é de louvar a carreira que Amália não fez apenas em Portugal mas por todo o mundo.
Madredeus: O som que atravessou fronteiras com delicadeza
Formados em 1985, foram o primeiro grande exemplo contemporâneo onde a música portuguesa conseguiu conquistar um lugar filme no estrangeiro. A voz de Teresa Salgueiro que misturava uma sonoridade do fado, música erudita e um certo minimalismo melódico levou a que o grupo passasse por vários destinos como é o caso do Brasil ao Japão.
Ao terem passado pela banda sonora de Lisbon Story, do alemão Wim Wenders, passaram a ser um dos principais cartões de visita musical de Portugal. Os Madredeus mostraram acima de tudo que não precisavam de cantar em inglês ou adaptar-se ao pop para terem sucesso. Este foi talvez o seu maior trunfo para hoje em dia continuarem a fazer parte da playlist de muitos, mesmo 40 anos depois do início da sua curta carreira.
Mariza: A nova embaixadora do fado
Se existe artista que levou o fado aos quatro cantos do mundo depois de Amália, foi Mariza. Apesar de ter nascido em Moçambique, Mariza foi criada na Mouraria, tendo juntado a alma do fado, com um pouco da música mais contemporânea.
A sua presença no palco trás a magia da artista que enfeitiça a plateia com a sua voz. Mariza já passou em alguns dos maiores palcos mundiais como é o caso do Carnegie Hall, em Nova Iorque ou o Royal Albert Hall em Londres, só para destacar dois. E apesar de toda a capacidade de internacionalização do seu fado, Mariza nunca deixou de cantar por Portugal.
Rodrigo Leão: A orquestra de um só homem
A carreira de Rodrigo Leão está cheia de aventuras. Começou nos Sétima Legião, passou pelos Madredeus, e finalmente consolidou uma carreira a solo, onde tocou por muitos palcos por toda a Europa. A sua música é cheia de camadas, e mesmo apenas no controlo do seu piano, muitos milhares esperam por um concerto de Rodrigo Leão para o ver ao vivo.
Mesmo sem as letras de nostalgia de Mariza, ou sem a voz de Teresa Salgueiro, Rodrigo Leão consegue colocar bastante melancolia nacional na sua música, levando a que sejam poucas as oportunidades que existem de ver em concertos por Portugal.
Moonspell: Quando o metal fala português
Os Moonspell são sem grandes dúvidas a maior banda portuguesa de metal de sempre. Foram criados no seio do underground português nos anos 90, mas rapidamente entenderam que a internacionalização seria a única via do sucesso. O metal não tem uma adesão em Portugal como acontece no centro ou no norte da Europa, por isso os Moonspell foram à procura do sucesso noutros locais.
Têm fãs por toda a Europa e são presença habitual nos festivais deste género musical. Apesar de terem discos com temas cantados em inglês e português, ultimamente lançaram o álbum 1755 que mostra que Portugal também consegue fazer música pesada com identidade, apesar de existir um público reduzido em relação a outros géneros musicais. Em Portugal, continuam a fazer concertos em grandes salas nacionais levando os seus temas aos seus fãs nacionais.
Buraka Som Sistema: Ritmo, suor e globalidade
Se Moonspell são os reis do metal nacional fora das fronteiras, os Buraka Som Sistema são os reis da batida fora de Portugal. O sucesso do grupo de afro beat foi consolidado em Portugal, obtendo sucesso em pistas internacionais, levando a dezenas de concertos fora do país.
Ainda hoje, alguns anos depois dos Buraka Som Sistema terem terminado a sua carreira, continua a serem tocados os seus temas em muitas festas onde a dança é o principal mote. Os Buraka Som Sistema levaram a alma das novas gerações nacionais com um toque afro a milhares de pessoas por todo o mundo, mostrando que a música portuguesa não é apenas fado.
Diego Miranda ou Kura: o techno nas pistas mundiais
Apesar da música electrónica ter o seu berço europeu em países mais a norte, Portugal tem mostrados nas últimas duas décadas que também pode ter alguns dos melhores djs mundiais. Primeiro foi Diego Miranda e posteriormente Kura a serem presença habitual no top 100 da revista DjMag que normalmente elege os 100 djs mais populares por todo o mundo.
Isto trouxe a estes dois djs uma divulgação do seu trabalho a nível internacional levando a que estes dois djs tenham residências musicais em clubs mundialmente conhecidos, e que façam digressões por todo o mundo, o que leva a que só no verão tenham algum tempo para fazer alguns concertos nos maiores festivais nacionais.
Então, há um “som português”?
Se no passado podíamos dizer que o fado era a música nacional, hoje em dia, já não existe a música nacional sendo vários os estilos musicais que passam pelos festivais e pelos grandes palcos por todo o mundo.
Apesar de não termos um grande nome mundial na pop ou no rock, continuando estes tops a serem dominados por artistas vindos dos Estados Unidos da América ou da Inglaterra, a espaços existe um ou outro artista que consegue uma carreira lá fora e que pouco tempo tem para tocar em Portugal.
Para além destes, existem alguns artistas que por exemplo por terem ganho o Festival da Eurovisão como é o caso de Salvador Sobral, ou por cantarem fado, que continua a ser bastante apreciado no estrangeiro, têm carreiras com alguns desconhecimento em Portugal mas com bastante sucesso pela Europa ou resto do Mundo.