A Música Popular Portuguesa: os Últimos 30 Anos

A Música Popular Portuguesa: os Últimos 30 Anos

Se pensarmos em resumir os últimos 30 anos de música popular portuguesa… por onde começavas? Talvez com o sucesso dos Xutos e Pontapés, nos anos 90, os DAMA nos anos 2010, ou no renascimento de uma música tradicional que já estava esquecida nas vozes de Ana Moura ou Salvador Sobral.

Na verdade muita coisa mudou, mas uma coisa que não mudou foi a capacidade que a música portuguesa continuar a emocionar-nos.

Dos anos 90 à viragem do milénio: guitarras, garra e identidade

Mas comecemos pelo início, pelos anos 90. Portugal tinha entrado na CEE, e muitas novidades existiam num Portugal que já não ouvia apenas a música tradicional de festa. E isso sentiu-se nos palcos.

Grupos de rock como os Xutos e Pontapés, GNR, Rádio Macau ou Silence 4 criaram músicas que ainda hoje fazem parte das nossas playlists. Nesta altura era fácil ouvir música na rádio em português mesmo que para muitos fosse “fatela” ouvir música portuguesa.

Se os Heróis do Mar e os Sétima Legião tinham deixado uma página importante nos anos anteriores, os Resistência trouxe pela primeira vez um grupo que juntava os melhores a darem uma nova vida aos clássicos nacionais. Este fenómeno foi tão único que ainda hoje os Resistência dão concertos por todo o país.

Os anos 90 disseram adeus aos LP ou aos singles, e começou a ser normal comprar os cds nas grandes superfícies comerciais. Nessa altura íamos comprar Cds ao Pão de Açúcar (actual Jumbo) em Alfragide. Se tiveres mais de 40 anos sabes o que estou a dizer.

Anos 2000: entre o pop, a telenovela e o primeiro YouTube

Os anos 2000 trouxeram um fenómeno diferente de divulgação da música nacional: as telenovelas. Muitos foram os artistas que ficaram conhecidos pelos temas que surgiram nas telenovelas da SIC ou da TVI. Basta pensar onde ficaram conhecidos Luciana Abreu, Tony Carreira e muitas outras bandas que foram responsáveis por temas pegajosos que ficavam nas nossas cabeças por semanas.

No entanto, também surgia o rejuvenescimento do pop-rock nacional com grupos como Toranja, The Gift, Clã ou Mesa sem esquecer a nova geração de vozes femininas do fado como Ana Moura ou Mariza.

Outro tipo de música nascia nas ruas dos centros urbanos. Com origem africana de influência lusófona, surgia o kuduro, tendo tido como maior exponente os Buraka Som Sistema que levaram a música nacional aos quatro cantos do mundo.

Pouco a pouco deixou-se de comprar cds, e os artistas independentes começaram a lançar os seus próprios temas em plataformas online como era o MySpace ou no Youtube.

2010-2020: Do alternativo ao mainstream — e vice-versa

Os anos 2010 foram talvez os mais complexos uma vez que o “comercial” começou a misturar-se com o “alternativo”.

O fado tornou-se novamente popular com nomes como António Zambujo ou Carminho. Pela primeira vez Portugal ganhou o festival da Eurovisão com o tema de Salvador Sobral com uma tema que não necessitava de fogo de artificio.

Por outro lado surgiram artistas como Capitão Fausto, Samuel Úria, B Fachada, Miguel Araújo ou os Deolinda, todos a brincar a música portuguesa, com arranjos diferenciados que traziam a nostalgia em sonoridades tradicionais, como se estivessem a contar histórias do passado.

A música online tomou conta dos principais suportes onde se ouvia música… os smartphones. Sendo e mp3, no Youtube ou no Spotify, deixamos de ouvir os álbuns completos dando a prioridade para os singles que os artistas começaram a lançar, mesmo que nunca lançassem o álbum completo.

E agora? A década de 2020 em diante

Hoje pode se dizer que a música portuguesa está num dos momentos mais importantes e ricos da sua história. Será muito difícil não encontrar um artista que cante em português que n esteja em todas as playlists dos portugueses.

A nova geração houve tudo e mais alguma coisa. Há quem só conheça Bárbara Tinoco do Tik Tok, quem goste dos beats de Ivandro ou quem oiça no rádio “O Marido das Outras” de Miguel Araújo.

E isto é excelente porque há espaço para vários géneros musicais, seja pop, música ligeira, passando pelo rock ou pelo hip hop.

Fenómenos como Calema, DAMA, Diogo Piçarra ou David Carreira continuam a levar multidões aos pavilhões ou a grandes audiências nas festas e festivais nacionais.

Uma canção portuguesa pode ser o que quiser

Independentemente, do artista ou da música o importante é que se continue a desenvolver e ouvir música portuguesa.

As festas de aldeia continuam a necessitar da música tradicional de Quim Barreiros ou da Rosinha. Continuamos a ir no carro a descobrir novos sucessos de artistas recentes como Piruka ou Nininho Vaz Maia.

E nesta altura é uma das alturas melhores para ver fusões entre estilos completamente diferentes com participações em temas que nunca imaginaríamos que aconteceriam. É como tirar de um saco uma bola que tem um nome de uma fadista e um nome de um rapper.

Por muito que os mais velhos digam que hoje em dia as vozes são todas iguais e os temas muito parecidos continua a ser difícil não trautear aquele refrão no carro sem dar por isso.

Afinal, o que é música popular portuguesa?

Não existe uma definição do que é música portuguesa. Música portuguesa é muito mais que um estilo. É folclore. É fado. É rock. É kizomba. É rap, pop, balada e guitarra portuguesa.

O que interessa não é o género musical mas o que os temas impactam na vida das pessoas.

Portugal, de ouvido apurado e coração aberto

Portugal mostrou nos últimos 30 anos que somos um país de músicos. Mesmo quando achamos que mais nada nos surpreende há alguém que nos diz “uma cena nova que está viral”. Por mais que achemos que a música portuguesa vai ser sempre a mesma coisa, iremos continuar a surpreendermos com a guitarra, beat ou bombo porque é aí que a alma nacional vai manter a música portuguesa viva.

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