Quem ainda compra música hoje: do vinil ao streaming
Será que se lembra a primeira vez que teve uma música “só sua”? Talvez tenha sido um vinil herdade do pai, ou então foi aquela cassete que veio numa revista. Ou será que foi um cd novo com aquela pelicula de plástico que gostávamos tanto de tirar para logo ir ouvir, enquanto liamos as letras no encarte que também servia de capa.
Se o leitor tem menos de 30 anos, então não conhecerá metade destas referências, uma vez que hoje em dia mesmo quando compra música, ela está no seu telemóvel mas não pode emprestar aos seus amigos.
Ao longo dos anos, existiram bastantes mudanças tecnológicas ao longo dos anos, mas algo que continua presente todos os dias são as lembranças que uma outra música nos faz reviver.
Quando a música era objecto de desejo
Nos anos 60 e 70, o vinil era rei. E digamos que mais que o vinil quem tinha um era só por si uma pessoa importante da rua. As capas sempre foram verdadeiras obras de arte, havia fotos da banda, agradecimentos, bastidores, as letras das músicas. Era uma experiência quando metíamos as mãos num disco novo.
Colocar o disto a tocar era um ritual: tirar a capa com cuidado, segurar pelas bordas, limpar com um pano anti-estático, posicionar a agulha, e ouvir aquele chiar da agulha no disco que antecedia o som. Não bastava carregar no botão. Não dava para saltar de música para música como fazemos hoje em dia.
Posteriormente, vieram as cassetes. Menores, mais portáteis, mas com um temperamento instável. Até podiam funcionar durante algum tempo como de um momento para o outro enrolavam e era o cabo dos trabalhos. Nada melhor que ter uma caneta BIC à mão para rebobinar por exemplo. No entanto a cassete veio trazer uma utilidade única que era podermos gravar as próprias cassetes com o som que mais queríamos. Gravávamos da rádio ou mesmo dos discos. Escrever os nomes das músicas nas capas. Era uma arte paralela.
Depois chegou o cd com de modernidade. Espelhado, com um som quase perfeito e sem ruído. Não tínhamos problemas das cassetes, mas teríamos pelo menos de ter cuidado com os riscos. Mas pouco a pouco a música começou a ser desmaterializada.
O digital mudou tudo
O virar do milénio trouxe novos suportes com a Internet. Toda a gente era o dj. Fazia downloads na internet e fazia cds com 700mbs de músicas. Lembremos que cada mp3 tinha uns 3 ou 4 Mbs por três minutos de música por isso fazendo contas dava pelo menos para 200 músicas.
O rei da rua era aquele que tinha um cd com os êxitos todos dos últimos dois ou três anos e ainda colocava lá uns quantos clássicos. A qualidade nem sempre era a mesma do cd, mas a graça passava por todos terem acesso à música mesmo que nem sempre era legal.
Logo depois vieram os Ipods e todos os derivados onde se conseguiam colocar pelo menos umas 500, 1000 músicas. Eram simples e pequenos, e tinha música que nos permitia ter qualquer música (previamente pirateada) no nosso bolso. Nesta altura já era uma relíquia quem andava com cds ou cassetes no carro. Os autorrádios permitiam a conexão directa e pronto. Música para toda a viagem sem parar.
E depois surgiu o Streaming. Primeiro o Youtube onde podíamos ver TODOS os videoclips possíveis e imaginários, e depois o Spotify onde sem esperar temos a música do momento. Já não precisamos de fazer download. Por uma pequena quantia de dinheiro (ou mesmo de graça) temos tudo o que queremos e nem imaginamos.
Mas será que agora é melhor?
O que se perdeu por este caminho
Com todo este processo perdemos algo. Perdemos a capacidade de dizer que tinhamos aquela música. Aquela música que se gostava, cuidava e mostrava aos amigos. Tinhamos uma coleção, fosse de vinis, cds ou mp3s. Hoje em dia só carregamos no “play”.
E atenção, não é uma crítica ao streaming. Graças ao streaming o acesso da música foi mais democratizado podendo tão facilmente ouvir a Rosinha ou a Taylor Swift. Muitos artistas apareceram graças ao streaming. Não estão tão dependentes de editoras e promotoras. Por outro lado ganham muito menos com a venda da sua música, existindo várias críticas para com as plataformas digitais pelo baixo pagamento por play.
E depois é o tempo que uma música durava. Antigamente a música era desejada, havia um comsumo de um tema, que tocava, tocava tocava… até muitas vezes o disco estar riscado. Hoje em dia, houve-se a música, gostasse e vai para a playlist onde já estão outras centenas de músicas. Tudo passa muito rápido.
Antes ouvia-se um cd ou um disco até decorar as músicas todas. hoje em dia. Skip, Next para cá e para lá, e tudo bem. Mas a relação com a música é diferente.
Ok, mas ainda alguém compra música?
Sim, e provavelmente muito mais pessoas que imaginamos e por razões diferentes
- 1. Os nostálgicos
Todos aqueles que permanecem presos à era dourada da música no Séc XX e que continuam a amar o físico. Eles gostam de ter música com coleções quase infindáveis. Eles continuam a comprar os novos lançamentos e por norma para além de gastarem muito dinheiro nos álbuns também tem gosto dos aparelhos para tocar os álbuns. Por isso quando vir um aparelho de vários milhares de euros, já sabe quem é o público alvo.
- 2. Os puristas
Aqui estão todos aqueles que trabalham com a música, sejam djs, produtores ou audiófilos. Estas pessoas não habrem mão da qualidade do som, e dizem que o vinil ou cd entrega a melhor qualidade sonora que o streming n consegue alcançar,
- 3. Os groupies
Todos aqueles que muitas vezes continuam a comprar directamente do artista, seja cd, cassete ou vinil. São aqueles que fazem fila no stand de merchandising no fim do concerto do seu artista favorito. Estes fãs continuam a apoiar o seu artista favorito comprando a um valor justo o resultado do seu trabalho.
- 4. A nova geração vintage
Existem muitos adolescentes que gostam de comprar as edições limitadas do disco de vinil dos seus artistas favoritos. Para além do estilo que lá, sente-se o som mais cru. É diferente. É como ouvir lo-fi. Ouvir o analógico que é real… e que tem defeitos como todos nós.
O Vinil vende novamente mais que o cd
Em alguns países o vinil já ultrapassou as vendas do CD. Nos Estados Unidos desde 1980 que a tecnologia foi revertida e o vinil já vende mais. Em Portugal continuam a ser lançados novos discos de vinis de álbuns que teêm sido lançados no spotify e outras plataformas, sendo o vinil o formato físico para muitos grupos.
Este é o saudosismo em resposta a uma demasia do digital. É um pouco a necessidade de ter trabalho, e de se dar valor ao que é mais difícil.
Além de tudo, o que preferias receber no Natal? Um disco de vinil que vais passar horas a ouvir ou um cartão para gatsra no Spotify. Deixo isso à tua consideração, mas se nnca experimentaste, nada melhor para sentir a experiência da música verdadeira.