Festival Kalorama

Se hoje em dia, vários são os festivais que estão a ser cancelados por falta de dinheiro, ou de público, outros começam a surgir como cogumelos, como se os portugueses ainda tivessem muito tempo e dinheiro para a música.

Meo Kalorama

O que é de estranhar é quando vêm novos festivais e pela novidade, ou pela diferenciação, têm sucesso. Foi o que aconteceu com as primeiras edições do Kalorama que é um festival que mostrou que veio para ficar.

A Origem do Festival

Ao contrário do que muitos pensam a palavra Kalorama, que nomeia o novo festival nacional, nada tem a ver com o calor que provem das nossas praias. Na verdade, Kalorama significa “bela vista”.

Este novo festival é organizado pela promotora portuguesa House of Fun e pela espanhola Last Tour. A Last Tour é responsável não só pelo Kalorama Lisboa, mas pelo seu irmão mais novo Kalorama Madrid, mas também por outros festivais bem conhecidos em Espanha como é o caso do Bilbao BBK.

Apesar de existirem muitos festivais em Lisboa e arredores, este foi desde o início um festival do mesmo género do Super Bock Super Rock, com um cartaz que podia se adequar ao público do festival de Sesimbra… mas em Lisboa, no centro de Lisboa.

Recinto

A organização viu o que estava disponível de localizações no pós-pandemia, e a hipótese vencedora seria o recinto do Rock In Rio, no Parque da Bela Vista. E se Kalorama significa “bela vista” nada melhor que colocar num recinto bastante bem conhecido pelos portugueses uma vez que por 20 anos foi ali realizado um dos maiores festivais nacionais. Por isso teria tudo para correr bem.

MEO Kalorama

No entanto, ao contrário do Rock In Rio, o Kalorama não foi pensado para ocupar toda a área ocupada pelo Rock In Rio. O que trouxe alguns desafios técnicos na primeira edição.

Primeira Edição

A primeira edição do Kalorama contou com nomes muito grandes do pop rock mundial. Arctic Monkeys, Kraftwerk, Chemical Brothers e Disclosure surgiram como os cabeças de cartaz dum festival que tinha de trazer nomes grandes para marcar a diferença para o que era apresentado na atualidade.

Meo Kalorama 2022

E apesar de ser talvez uma experiência, terem escolhido o início de setembro para um festival de verão podia ser um risco, uma vez que depois das férias o dinheiro que sobra na carteira nem sempre é em quantidade suficiente para mais um festival.

Problemas Técnicos

A primeira edição foi marcada por problemas técnicos que não seriam esperados num festival desta dimensão. Uma vez que os dois palcos era bastante perto um do outro e existindo actuações em simultâneo, o som do palco principal podia facilmente ser ouvido, pelos espetadores que estavam no palco secundário.

Este problema nunca se registou no Rock In Rio, uma vez que o parque da Bela Vista foi preparado para ter dois anfiteatros onde podem estar dois palcos e outros nas zonas laterais. A organização do Kalorama foi mais ambiciosa e colocou os dois palcos no anfiteatro principal, levando a que os palcos estivessem demasiado próximos um do outro.

Mapa Kalorama 2022

A proximidade levou a que a organização cortasse duas actuações para terem apenas 20 minutos de forma a que os horários fossem cumpridos no palco principal, o que deixou público e artistas insatisfeitos.

2023-2024

2023 e 2024 trazem novamente o Kalorama ao parque da Bela Vista com nomes que levam milhares de fãs novamente ao festival, apesar dos problemas da primeira edição. Florence + The Machine, Arcade Fire, Massive Attack ou Sam Smith são alguns dos nomes que passam pelo festival que marca a diferença com os seus concorrentes pela proximidade do centro de Lisboa.

Mudança no Calendário

2025 apresenta novidades no que toca ao Kalorama. Ao contrário do que foi feito nas três primeiras edições o festival passa do fim de agosto (ou início de setembro) para meados de Junho, deixando de ser o último festival do verão, sendo agora um dos primeiros festivais da temporada.

MEO Kalorama Logo

Com um cartaz bem mais preenchido com as primeiras edições, é possível que mais palcos se possam abrir para mais de quatro dezenas de artistas possam atuar no Parque da Belavista.

Mais um festival em Lisboa?

Ao contrário do que se pensava inicialmente, o Kalorama não colidiu com o público dos restantes festivais que se realizam na região de Lisboa.

Depois da notícia do cancelamento do Super Bock Super Rock, e na inexistência da informação se o festival vai continuar em 2026, é possível que o Kalorama tome o lugar do SBSR no género musical que normalmente era costume no festival do Meco.

A centralidade de estar apenas a 10 minutos do Aeroporto, de ter metro nas suas proximidades e as possibilidades múltiplas de chegar ao festival, leva a que este Festival possa ter bastante a dizer a curto médio prazo, uma vez que não colide a nível de público com o NOS Alive ou com o Rock In Rio.

Apesar de muitos grupos que passam pelo Kalorama já actuaram no NOS ALive, o público dos dois festivais poderá ir a ambos, não sendo próximos a nível temporal para que isso não aconteça, e a centralidade do Kalorama poderá levar a que algum público nacional que normalmente não vai ao Alive, possa vir ao Kalorama.

Meo Kalorama Público

Por enquanto o valor dos bilhetes e passes, também é uma grande vantagem comparado à maior parte dos festivais de Lisboa, uma vez que o preço dos bilhetes do Kalorama é menos elevado do que os preços dos passes para o Alive ou mesmo para o Rock In Rio.

O facto de o Rock in Rio ter-se mudado para o Parque Tejo, leva a que este espaço possa ser apenas para o Kalorama, beneficiando do estatuto do festival ser anual, levando a que exista uma maior habituação ao público local a poder ir ao Kalorama, ao contrário de outros festivais que não são realizados todos os anos.

Resta saber se o público nacional/internacional vai ver o Kalorama como uma oportunidade de ver os seus artistas favoritos num dos melhores recintos de Lisboa para ver espetáculos a um preço acessível para a carteira dos que estão habituados a frequentar concertos de grupos internacionais.

O Kalorama é a prova que ainda há espaço para a diferenciação de festivais especialmente quando não tentam apenas ser a cópia de outros nacionais ou internacionais, existindo uma aprendizagem com os próprios erros e com os erros de terceiros.