Festival Sudoeste

Existem fenómenos culturais que não precisam de grandes apresentações. O Festival Sudoeste é um deles. Desde 1997 que a pacata aldeia da Zambujeira do Mar viu-se invadida por milhares de jovens de todo o país. Como alguém podia imaginar que milhares de jovens iriam encontrar-se numa herdade perdida no Alentejo onde nada mais existia do que campo e um canal.

Sudoeste Público

Mas rapidamente a música, a amizade e muita diversão começaram a caracterizar um dos festivais mais icónicos dos últimos 30 anos. E não foi apenas um ícone pelos grupos que passaram, mas pelas memórias que construíram a todos aqueles que durante mais de 25 anos passaram pelo Sudoeste.

A primeira edição

Nos anos 90 surgiram a maior parte dos grandes festivais que hoje em dia conhecemos. As pessoas queriam novos eventos onde pudessem ir nas férias de verão, e lá para os lados da Zambujeira do Mar na Herdade da Casa Branca surge o Festival Sudoeste.

Praia da Zambujeira do Mar

O campo alentejano é invadido por alguns dos maiores grupos mundiais como Marilyn Manson ou Blur. Quem conhece os cartazes que são apresentados hoje em dia, dificilmente reconhecem os nomes que passaram no início do festival, mas na altura em que não existiam tantos festivais e concertos de artistas mundialmente conhecidos ir ao Sudoeste ver estes artistas era um luxo.

Como qualquer festival no início tee alguns problemas técnicos, mas rápido se tornou num dos mais bem referenciados festivais em Portugal.

Final dos anos 90 e início dos anos 2000

Com as primeiras edições surgiram um maior profissionalismo, bem como o apoio das marcas nacionais. Uma melhoria nas estruturas de apoio, e um cuidado na escolha de artistas foi algo permitido com os principais patrocinadores. Primeiro a Sagres foi a naming sponsor, e posteriormente a Optimus. Sim, durante alguns anos a Optimus era a principal patrocinadora dos maiores festivais, permitindo a penetração do seu produto no mercado mais jovem que assistia a estes festivais.

Nesta altura o festival começa a adaptar-se a um público mais diverso não tendo só um género musical, permitindo que outros públicos pudessem vir ao festival. Artistas como The Cure, Guano Apes, Portishead, Placebo entre muitos outros passaram nas primeiras edições, quando o festival começou a ter um formato de quatro dias de festival.

2006: A edição que fica para a história

Houve algumas edições que ficaram para a história e uma delas foi 2006. É difícil não gostar do ano em que o cartaz era marcado por alguém deitado na areia da praia provavelmente com a ressaca tradicional do dia anterior. No cartaz havia nomes como The Prodigy, Daft Punk e Xutos e Pontapés.

Sim, nesta altura Daft Punk era o nome da cena eletrónica, e foi neste período que o festival começou a ter alguns dos principais nomes da música eletrónica mundial.

2008-2010: O Festival continua a crescer

Para além dos tradicionais 4 dias, no final da década o Festival começa a ter o dia 0, ou dia de receção aos campistas, existindo uma megafesta num palco no meio do campismo.

Para todos aqueles que gostavam da música eletrónica e reggae, o festival começa a focar muito neste género musical com artistas como Alpha Blondy, Gentleman e SOJA. Para muitos outros a música eletrónica era a oportunidade de ver alguns dos melhores djs mundiais atuarem quase todas as noites do festival

2010-2020: A era digital e o pop de massas

A década de 2010 trouxe uma mudança significativa no género musical do Sudoeste. A juntar à música eletrónica, o festival adaptou-se à Geração Z. Para além de alterações no recinto como Wi-Fi, supermercado no recinto, zonas de carregamentos de telemóveis, estruturas para cozinhar, lavar a loiça e roupa, o festival torna-se menos rústico e mais preparado para os tempos modernos.

Meo Sudoeste

Mas mudou também na música, com artistas mais pop como foi o caso de Dua Lipa que actuou em 2017. Os grandes djs mundiais como Hardwell, Alesso, David Gueta ou Steve Aoki eram presenças habituais, e pouco a pouco o hip hop começava também a ganhar espaço, tendo tido o seu auge com a presença de Snoop Dogg em 2011. De lembrar que nesta edição nomes como Kanye West, David Guetta e Swedish House Mafia foram os cabeças de cartaz. Que luxo.

Os artistas portugueses

Apesar do festival sempre ter tido alguns dos melhores artistas internacionais nunca foi um festival que se deixa de lado os maiores artistas portugueses.

A música portuguesa sempre foi um destaque para os organizadores do festival trazendo por várias vezes ao longo dos anos, os maiores nomes do panorama musical português como Xutos e Pontapés, Da Weasel só para referir duas bandas que estiveram por mais de 5 vezes no Sudoeste.

Este sempre foi um festival com lugares certos para os portugueses no palco principal, tendo também um palco secundário maioritariamente para os novos talentos nacionais.

A pandemia e paragem temporária em 2025

Ao longo de todos os anos o festival só parou por duas vezes.

Em 2020 e 2021, por causa da pandemia o festival não se realizou tendo sido retomado em 2022.

Posteriormente, em 2025 por falta de apoios o festival não se realizou após ter disso perdido o principal naming sponsor em 2023, tendo o conhecido MEO Sudoeste durante muitos anos ter sido apenas Festival Sudoeste na sua última edição.

O Campismo no Sudoeste

Na história do Sudoeste podemos referir que o campismo sempre foi uma das grandes mais-valias do festival. Inspirado não só nos festivais a norte, e muitos festivais por toda a Europa, o Sudoeste era mais que um festival, era as férias de muitos.

Quando és jovem e não tens dinheiro para ir para um bom hotel no Algarve ou ir para o estrangeiro, relembremos que estamos a falar dos inícios do milénio onde as Lowcost pouco voavam em Portugal, ir uma semana para o meio do Alentejo com uma piscina privativa e praia por perto, era um luxo para muitos.

Campismo Festival Sudoeste

Piscina? Sim, para muitos, o famoso “canal” era o mais perto que teve de uma piscina privativa, sendo míticos os fins de tarde com djs e muita diversão com os amigos.

Sudoeste Canal

Para todos aqueles que não queriam ficar no canal, existia sempre a possibilidade de ir para as praias nas redondezas, sendo por vezes um movimento tribal ao fim da manhã e ao início de noite no regresso da Zambujeira do Mar.

Muito mais que um festival

O Sudoeste é muito mais que um festival. É uma memória na cabeça de milhares e portugueses que por aqui passaram muito mais que umas férias. Nunca foi apenas pela música.

O festival sempre foi um encontro entre amigos que muitas vezes só se viam ano após ano na altura do festival. É esta a principal razão pela qual o Sudoeste não deverá terminar, e mesmo não sabendo a data de retorno, será algo que todos anseiam para o regresso de um dos melhores festivais nacionais.