Papillon

Existe a expectativa quando alguém nos diz “Já ouviste aquele novo som do rapper”? Hoje em dia os rappers nascem nas esquinas como cogumelos nascem na floresta. A cultura do flex, levou a que qualquer míudo queira ser ou o Cristiano Ronaldo ou o Piruka (no mínimo). Mas ainda há uma geração que se preocupa não só com o dinheiro, carros e o que a música pode trazer, mas também traz a mensagem que outrora o hip hop passava em Portugal.

E nestes podemos incluir o rapper Papillon que pretende capturar a atenção das novas gerações, mas com uma identidade diferente, afastando-se do público em massa, mas passando a mensagem que pode ser ouvida nos fones sem grande aparato.

Início da Carreira

Rui Pereira nasce em Lisboa, mas vive Mem Martins e como muitos meninos da Linha de Sintra vive em contacto com todas as vivências e sobrevivências que faz procurar uma vida melhor.

Desde muito cedo que com os amigos vive no meio do hip hop, afinal é na Linha de Sintra que apareceram alguns dos maiores nomes do hip hop entre o Tejo e o Douro. Força Suprema foram talvez um dos maiores grupos que por aqui permaneceram, mas Rui Pereira inspirou-se não só em grupos lusos, mas também em rappers americanos como Kanye West ou Kendrick Lamar ou mesmo outros artistas como Frank Ocean, Slow J, J. Cole ou Adele.

Grognation

Mas foi nos Grognation que Papillon ficou conhecido. Os Grognation eram compostos por Harold, Nastyfactor, Prizko, Nec e Papillon. Durante vários anos este grupo da Linha de Sintra colaborou com alguns dos maiores produtores nacionais como foi o caso de Dj Ride, ou com Sam The Kid que dispensa apresentações.

Grognation

Com a normal ânsia de existirem carreiras a solo, os Grognation deram lugar a várias carreiras a solo, tendo Papillon ter sido o artista do grupo a ter mais sucesso a solo.

Primeiros Álbuns

O seu primeiro álbum é lançado em 2018, sendo uma reflexão sobre a sua infância, as suas raízes e o processo de aprendizagem ainda na sua curta vida. Considerado por álbuns do álbum do ano deste género musical, teve a participação de artistas como Plutonio, Lhast, Fumaxa, CHARLIE BEATS, tendo tido a produção executiva de Slow J.

Alguns anos depois surgem “Jony Driver” o segundo álbum do artista, com muitas histórias de quando era miúdo, abordando temas como o racismo. Ao contrário de muitos rappers da atualidade Papillon retorna aos tempos do início do Hip Hop Nacional onde causas sociais eram relevantes para os contadores de histórias aka rappers.

Festivais e Concertos

O sucesso e o reconhecimento levaram Papillon a alguns dos maiores festivais nacionais. Nos Alive, Meo Sudoeste, Festival F foram só alguns dos maiores locais onde o artista passou, demonstrando por este locais a sua importância no hip hop nacional.

Papillon

Semanas Académicas e festivais locais tem sido destinos dos concertos de Papillon contando com centenas de concertos na sua ainda curta carreira que leva o hip hop da Linha de Sintra aos quatro cantos de Portugal.

Dobragens

No entanto, Papillon não é apenas um talentoso rapper mas também tem outras artes como forma de “ganhar mais uns trocos”. A dobragem de filmes para criança chama tradicionalmente atores e músicos nacionais para dar voz aos sucessos internacionais, e a prova da qualidade da voz de Papillon é que já fez parte de múltiplas produções cinematográficas, dando não só voz aos personagens mas também a músicas das versões nacionais.

Por várias vezes já deu a voz por “Cooper” nos filmes “Trolls”, tendo sido voz de vários temas do mesmo filme. Para além deste participou em dois filmes do “Homem Aranha”, e deu a voz a Maurice no filme “Garfield”.

Futuro

Papillon é atualmente uma das referências dos mais novos no hip hop nacional. Apesar de ainda não ter tido o relevo que muitos dão aos artistas que fazem grande digressões nacionais e internacionais, tradicionalmente não é visto como “must” neste género musical o facto de ser demasiado comercial. Veja-se o caso de Valete que durante muitos anos não deram concertos e era um dos rappers mais ouvidos em Portugal.

Papillon

Com o passar dos anos e com o lançamento de novos singles, será cada vez mais normal o convite por parte de associações, municípios e outros “contratantes” de forma a que o artista possa ser mais facilmente visto, sem ser nos grandes festivais musicais aonde nem sempre o público fora dos grandes centros urbanos tem acesso.

No entanto, é certo que Papillon irá continuar a ter uma carreira sólida, sem a pressão do Spotify, dos views ou dos lançamentos anuais, mas mostrando as lições dos grandes professores que com ele já produziu temas. Não é se estranhar com Sam The Kid, Slow J e outros grandes nomes do género musical tenham passado pela carreira de Papillon, filtrando aquela qualidade que pode ser ouvida nos temas do artista.

Serão naturais como foram ao passado as participações de Papillon nos temas de outros artistas e vice versa, tornando o hip hop nacional, uma manta de retalhos e inovação, onde os bairros, e as “guerras” onde Papillon iniciou a sua carreira na Liga Knock Out sejam cada vez menos percetíveis, e poderem todos lutar no mesmo rumo, de uma música melhor e de uma maior ligação entre a música, os bairros e todos aqueles que vivem e tentam sobreviver nos mesmos.

Para todos aqueles que nunca tiveram o gosto de poder ver Papillon ao vivo, saibam que vão contar com uma viagem a memórias de adolescência, especialmente se tiverem vivido não só na Linha de Sintra, mas num Portugal dos anos 90 e 2000 em mudança, onde nem tudo foi perfeito, mas que com algumas lições que podem ser ouvidas nos temas do rapper poderão melhorar nos próximos anos.