Ornatos Violeta
Será que ainda se canta “Ouvi dizer”? Sim. E talvez com uma maior intensidade do que se cantava há 20 anos atrás. Ornatos Violeta sempre foi muito mais que um grupo, foram educadores de lições de vida, até porque o monstro também precisava de amigos. E hoje continua a ser assim.
Ainda hoje em dia quando soa a primeira guitarra de “Capitão Romance” sentimos algo de diferente. Um arrepio ou uma memória que vem de sentimentos que não passaram ao longo do tempo. É a vida sem filtros… tal como sem filtros é a voz de Manel Cruz.
A origem dos Ornatos Violeta
Ao contrário dos grupos que hoje nascem para o Youtube os Ornatos nasceram a 1991 no Porto, cidade que provavelmente gerou mais talentos do rock nacional. Na sua composição existia Manel Cruz na voz, Nuno Prata no baixo, Kinörm na bateria, Peixe na guitarra e Elísio Donas nos teclados.
Durante os primeiros anos de vida, os Ornatos participaram em várias coletâneas e ganharam o 7.º Concurso de Música Moderna do Rock Rendez Vous. Não fosse este espaço conhecido por ter promovido concertos de alguns dos maiores nomes da música portuguesa, também foi aqui que talvez foi o passo principal para o desenvolvimento da música dos Ornatos.
O primeiro álbum dos Ornatos
Com a cidade do Porto como pano de fundo, as suas letras, o tom rude mas terno, marcaram músicas que apenas viram a luz do dia em 1997 quando sai o seus primeiro álbum “Cão!”.
Nunca foi fácil definir o som desta banda sendo qualificado entre o rock, o ska ou mesmo o jazz, foi qualificado por muitos como a spoken word ou poesia urbana que hoje em dia conhecimentos mais no hip hop mas que os Ornatos, e mais propriamente Manel Cruz soube fundir com o Rock.
Divulgação e concertos
Nesta altura não havia Instagram ou Tik Tok, havia cassetes copiadas, cds emprestados, e concertos onde o público via e cantava até perder a voz. E durante os últimos anos da década de 90 os Ornatos marcavam a música a norte, dando a conhecer outros grupos da mesma época como por exemplo os Clã.
Ao longo de 98, houve a participação dos Ornatos no trabalho de celebração da Expo 98 “Tejo Beat” onde se juntavam com outros artistas bastante conhecidos da altura como Boss AC ou Blasted Mechanism. Mas o ano seguinte seria fundamental para o mito dos Ornatos.
“O Monstro Precisa de Amigos”
O segundo álbum dos Ornatos surge dois anos após o primeiro. Com uma produção bastante cuidada o álbum não era de audição fácil. Não eram temas que fossem facilmente aceites pelas rádios mais comerciais, não tinha o refrão óbvio, mas deixou temas que ficaram para a história como “Ouvi Dizer” com a participação de Vitor Espadinha ou “Capitão Romance” com Gordon Gano.
Temas como estes não eram apenas músicas, em espelhos da alma de quem os criou, e por isso é que apesar de se passarem mais de 25 anos sobre o seu lançamento continuam nas playlist de milhares.
O grupo termina em 2002
Apesar de nada fazer esperar depois de muitos concertos, participações em coletâneas e muito sucesso associado a banda separou-se em 2002.
Os seus membros durante a década seguinte seguiram caminhos diferente, tendo surgido por exemplo os Pluto, com uma sonoridade mais rock, tendo Manel Cruz e Peixe como elementos que faziam parte da composição original dos Ornatos.
Depois surgiram os Supernada, o Foge Foge Bandido, sendo que outros membros participaram noutros projetos entretanto.
O regresso em 2011
Em 2011 surge uma reedição dos dois primeiros álbuns e a edição de um terceiro cd “Inéditos e Raridades”, onde era uma espécie de colectânea de temas dos Ornatos mas que foram lançados em colectâneas como a Tejo Beat ou os XX Anos XX Bandas, colectânea de homenagem aos Xutos e Pontapés onde os Ornatos cantaram uma versão expandida do Circo de Feras.
O retorno aos concertos depois de uma década de paragem volta os concertos de reunião. Anunciados três concertos na sua página do facebook, os bilhetes voam como pãezinhos quentes, e os espaços limitados enchem pelas costuras para ver o regresso dos Ornatos Violeta.
Pais que muito namoraram a ouvir Ornatos levaram filhos, para ver o que era uma “banda a sério”. E pensando que os concertos podiam não voltar a existir. Para além de Lisboa, Porto e Ponta Delgada, depois foi noticiada a presença no Paredes de Coura. E voltaram para o seu silêncio.
Regresso de 2018
A celebração dos 20 anos de “O Monstro Precisa de Amigos” levou os Ornatos a alguns dos maiores festivais nacionais, tendo existido concertos no Alive, Marés Vivas e no Festival F em Faro. Posteriormente foram feitos mais alguns concertos nos Açores, no Super Bock Arena e no Campo Pequeno, tendo passado o ano para 2020 com um grande concerto no Terreiro do Paço.
Afinal, Os Ornatos nunca foram um grupo do norte ou do sul. Durante as últimas duas décadas foi um dos grupos mais ouvidos pelos portugueses mesmo quando a sua ausência foi marcada pelo seu silêncio.
Actualidade
Apesar do teclista Elísio Dornas ter falecido em Maio de 2024, tendo sido o seu último concerto na Queima das Fitas do Porto do mesmo ano, os Ornatos continua no activo na celebração dos 25 anos de “O Monstro Precisa de Amigos” com alguns concertos um pouco por todo o Portugal.
Nada como ver onde é o próximo concerto de Ornatos Violeta e aproveitar um som que hoje em dia não é feito, e por isso este tipo de grupos deve ser ouvido e aplaudido até não poder mais. Um dia eles podem parar e não termos uma nova oportunidade de um regresso num festival ou pavilhão.
Ouvir os clássicos de Ornatos é como voltar atrás na história, com a nostalgia de uma sonoridade de uma de juventude que já lá vai, mas que basta ligar play que todos sofremos uma viagem no tempo para a nossa adolescência rebelde e emocional.