A Música nas Feiras Medievais: Ritmos e Sons que Ecoam no Tempo
As feiras medievais eram realizadas em praças e ruas das vilas medievais, e a música, tal como a comida, tinham um papel essencial na animação do quotidiano das pessoas, marcando momentos únicos na vida de cada um.
A Música como Elemento Central nas Feiras Medievais
Nas feiras medievais, a música não era apenas entretenimento, era uma linguagem universal que unia as pessoas de diferentes origens e classes sociais. Os músicos ambulantes eram conhecidos por jograis e trovadores, e percorriam as festas com os seus instrumentos, oferecendo não só as canções como a narração de feitos dos heróis, dos seus amores e actos épicos.
Estes artistas tinha uma grande importância na passagem da cultura popular. A música era a sua principal forma artística de passar o seu conhecimento de boca-em-boca.
Instrumentos Musicais nas Feiras Medievais
Os sons que podiam ser ouvidos numa feira medieval eram ricos e variados. Os músicos daas várias épocas usavam por exemplo gaitas de foles, o alaúde, a flauta, o tambor e a viela. Cada um destes instrumentos contribuía com timbres diferentes que juntos criavam uma atmosfera vibrante que hoje em dia só conseguimos obter… nas recriações das feiras medievais.
A gaita de foles, ainda muito tradicional na música da vizinha Espanha, tem um som penetrando, e era normalmente usada para marcar o inicio das festividades. Já por exemplo o alaúde, com as suas cordas delicadas, acompanhava mais as canções suaves e melódicas, enquanto por exemplo o tambor marcava o ritmo das danças e das celebrações.
A Música nas Feiras Medievais Portuguesas
Em Portugal, as festas ou feiras medievais continuam a ser momentos de celebração da nossa cultura ancestral. Um pouco por todo o país, onde exista uma fortificação existe por norma uma grande festa ao longo do ano. Isso provêm naturalmente das festas que outrora iluminarão as paredes dos fortes ou castelos que rodeavam as vilas ou cidades.
Nesses eventos grupos como os Gambuzinos ou os Sacarrabos, especializados na interpretação de música medieval e renascentista, utilizam instrumentos históricos para recriar os sons da época, dando ao público aquilo que hoje chamamos de experiência imersiva.
A Música como Elemento de Identidade e Património Cultural
A música das feiras medievais não era apenas uma forma de entretenimento do público, era também uma forma de mostrar a identidade cultural das várias comunidades.
Era natural ir a vários locais e as músicas, bem como os instrumentos, serem diferentes. Estas músicas demonstravam os valores as crenças de cada povo, não esquecendo que era uma boa forma de preservar a memória colectiva. Era na feira medieval que os laços da comunidade se estreitava, bem como hoje em dia em qualquer festa de aldeia, onde os momentos musicais são muito importantes. Qual é a festa que não tem um concerto ao início da noite, e depois acaba sempre que o bêbado local sozinho na pista, enquanto o dj termina?
Saltimbancos, Trovadores e Menestréis: os verdadeiros influencers medievais?
Tal como hoje, na altura nem todos os artistas tocavam para todos os públicos. Existiam os artistas que tocavam para nobres e quem apenas cantasse nas tabernas, ou que cantasse no meio da rua para as crianças. Cada um tinha o seu dom de animação.
Os trovadores, por exemplo, eram quase nobres. Serviam para compor poemas musicados sobre amor cortês e atos heroicos. Eles escreviam a letra, interpretavam a música, e normalmente estavam ao serviço do senhor feudal ou da corte real.
Os menestréis pelo contrário eram músicos mais ligados ao povo, que não tinham grandes pretensões de poesia, e que tocavam onde era necessário. Praças, banquetes, procissões. Eram “pau para toda a obra”.
Para além dos menestréis, existiam ainda os saltimbancos que tinham para além da música o espetáculo circense como objectivo, podendo dançar, fazem malabarismos e contavam anedotas. Normalmente com estes a música ganhava corpo, e contando piadas aqui e ali eram o “stand up” medieval.
Música como crónica do povo: letras que contavam mais que romances
A música no tempo medieval não era apenas música, era também a imprensa da época. Não existindo televisão ou internet, as letras falavam de acontecimentos reais, catástrofes, feitos ou traições amorosas. Como a maior parte das pessoas nem sequer sabia ler, era assim que o povo sabia das novidades, ou pelo menos a ma versão bastante dramática das mesmas.
Os Jograis faziam muito sucesso, porque eram basicamente aqueles que traziam as principais novidades. Havia uma balada nova, uma sátira a um bispo ganancioso, ou uma história de guerra que rapidamente se tornava uma lenda.
Muitas dessas letras sobreviveram aos tempos existindo manuscritos das mesmas como o Cancioneiro da Ajuda ou o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, tendo sido preservados séculos de narrativas populares passadas de boca em boca.
Sons de batalha e cânticos sagrados: a música em diferentes contextos
Mas nem toda a música era de festa. Também exista a música mística e marcial.
Existiam os cantos religiosos que eram cantados por frades ou grupos penitentes que podiam ser ouvidos directamente das zonas de culpa lembrando que a espiritualidade era muito importante na vida medieval.
Já as marchas militares com trompas, tambores de marcha e cornetas, eram bastante usadas para os torneios, chegadas de cavaleiros ou a abertura do próprio mercado. Com ritmos repetitivos, longe da nossa música techno, tinham um efeito de quase hipnose levando a que o povo se deslocasse para um determinado espaço, tal era a espectativa.
Como tudo isto chega aos dias de hoje
Hoje em dia não vamos para uma feira medieval só para comprar queijos e ver encenações. A música é um dos principais destaques da festa. É o que normalmente nos faz parar, e o que nos leva a tirar o telemóvel do bolso para fazer aquele reel para mais tarde recordar.
Hoje em dia existem vários grupos especializados que fazem investigação histórica sobre os instrumentos, melodias ou letras originais. Grupos como Albaluna, Galandum Galundaina ou os Gambuzinos são alguns deles que não se limitam a tocar algo com aspeto antigo, mas recriam todo o ambiente com instrumentos tal e qual como eram usados na altura.
Afinal, por que nos fascina tanto esta música?
A música das feiras medievais transporta-nos simplesmente ao que era mais simples. Dançar numa roda, sem grandes passos de dança complicados, cantar sem ter afinação, e poder estar juntos sem precisar de autotune e likes é o que leva muita gente a viajar centenas de quilómetros para ir às feiras medievais.
A música da feira é ancestral, imperfeita e quase orgânica, sem amplificadores. Não há uma playlist de feira medieval no Spotify, e por isso é que é tão interessante esta experiência live.
Última paragem: a feira mais próxima
É difícil encontrar um português que nunca tenha ido a uma feira medieval, mas se ainda não foste, deixa que te diga que perdes muito mais que o cheiro a queijo e ao pão com chouriço. Estás a perder uma oportunidade de viver algo único e diferente.
Deixamos uma lista e algumas feiras medievais mais conhecidas do país:
- Feira Medieval de Óbidos
- Viagem Medieval em Santa Maria da Feira
- Mercado Medieval de Silves
- Festa da História em Vila Nova de Cerveira
- Feira Afonsina em Guimarães
Pelo país existem centenas e vais ficar certamente satisfeito de teres dado uma oportunidade à diversão medieval.