Cancelamento dos Festivais em Portugal? Porquê?

North Festival: O primeiro do ano a ser cancelado

Anunciado para 23 a 25 de Maio, o North Festival chegou a ser anunciado, como um dos primeiros festivais a decorrer em 2025. Ao contrário do ano passado onde esteve presente nos jardins de Serralves, este ano o North Festival iria decorrer no Estádio do Bessa.

A razão que foi dada para o adiamento do festival foi a indisponibilidade de datas que iriam ser conflituantes com o playoff da Primeira Liga de Futebol que poderá decorrer no estádio do Boavista. Recorde-se que este estádio já foi palco para concertos de grupos nacionais, sendo um excelente local para fazer este festival que costuma decorrer na cidade do Porto.

Este Festival é considerado um festival familiar com artistas lusófonos mas também alguns dos maiores artistas internacionais, não tendo um género musical definido, levando a que ao longo das várias noites do festival vários géneros musicais possam ser atraídos para concertos de artistas como Robin Williams, Ivete Sangalo, The Script ou Alejandro Sanz.

Festivais em Portugal
Festivais em Crise?

Sudoeste: ausente em 2025

Desde 1997, que o Festival Sudoeste foi uma das principais referências dos jovens nacionais. Realizado num dos primeiros fins de semana de Agosto, o Sudoeste era paragem obrigatória para milhares de jovens que acampam na Herdade da Casa Branca, na Zambujeira do Mar.

Depois de ter apenas parado nos anos da pandemia, como todos os festivais e concertos musicais, o Sudoeste perdeu o seu principal patrocinador no ano anterior. Tendo sido apresentado em 2024, apenas como Sudoeste, seria da esperar que este festival pudesse não ter lugar no ano seguinte.

Apesar dos jovens desejarem bastante a semana “de aventura” junto ao canal, sem um grande patrocinador que seja naming sponsor do festival é muito difícil trazer os tradicionais artistas que os jovens querem ouvir. A somar a esta questão num ano em que os cartazes de festas municipais parecem festivais, de tão bons artistas que trazem é difícil a um jovem para um passe para ver artistas que poderá ver mais tarde ou mais cedo gratuitamente em Portugal.

Recorde-se que nos últimos anos o festival, trazia os artistas que os jovens mais queriam ouvir em Portugal, bem como alguns dos melhores djs mundiais, em noites que muitas vezes só terminavam perto do sol raiar.

Super Bock Super Rock volta em 2026

O Super Bock Super Rock é um dos festivais históricos de Portugal. Depois de ter recebido centenas de artistas desde 1995. Em 2025, iria ser a edição dos 30 anos de Festival, mas o mesmo não se irá realizar. Desde o seu início o Super Bock Super Rock, foi promovido pela Música no Coração. Com passagens até pelo Parque das Nações muitas foram as mudanças que foram feitas ao longo do histórico, dum dos principais festivais de rock nacionais.

Ao contrário do Sudoeste que perdeu o seu naming sponsor, esse não deverá ser o caso do Super Bock Super Rock, que apesar de continuar em 2026, não irá ser a MNC como promotora, prometendo haver mais desenvolvimentos nesta questão até ao anúncio da próxima edição.

Falta da disponibilidade dos artistas

Nem sempre é fácil organizar um cartaz para um grande festival em Portugal. A passagem por Portugal, leva a que os artistas estejam por exemplo em tournée pela Europa, levando a várias condicionantes por parte das agências de forma a que possam por exemplo ser colocados outros artistas “não tão interessantes” no mesmo cartaz.

Os espetadores (que compram bilhete) vão na expectativa de ver o cabeça de cartaz, mas este cartaz é muitas vezes formado por mais de 50 artistas “mais ou menos” conhecidos que irão ocupar toda a tarde e início de noite enquanto os espetadores esperam pelos concertos principais, comem ou passam apenas tempo nas filas dos patrocinadores para ter direito a um brinde.

Dificuldades financeiras por parte dos organizadores

E os brindes estão bastante ligados à ativação de marca de grande parte dos patrocinadores que pagam uma boa parte dos festivais. Para além dos naming Sponsors que carregam a sua marca junto do nome do festival, carregam também financeiramente o festival às costas.

Apesar dos promotores terem contratos longos com as marcas, e estas conseguirem ter aqui uma grande plataforma de exposição da sua marca e dos seus produtos, é natural que à medida que a população deixa de frequentar o festival que as marcas vão deixando os festivais.

Apesar dos principais festivais nacionais não mudarem muito os seus principais patrocinadores, existem por exemplo casos de festivais que mudaram alguns dos seus principais patrocinadores sem mudarem os naming sponsors. Basta pensar em alguns dos principais festivais de verão, e as marcas que os patrocinam. Seja marca de cerveja, banco ou empresa de telecomunicações, é normal não existir uma grande mudança nas grandes patrocinadoras uma vez que o mercado nacional não terá muitas empresas dispostas a injetar milhões de euros num festival de música.

Saturação dos espetadores para ver os mesmos artistas

Mas as marcas saem quando o público já não interessa. E este público não interessa quando começa a deixar de ir aos festivais. E porquê? Poderíamos dizer que os elevados custos dos bilhetes são uma razão para não ir a um festival quando o preço do passe para um festival chega a custar um quarto do salário mínimo nacional.

Mas na verdade essa não é a principal razão quando vemos concertos a serem esgotados em catadupa como foi Taylor Swift no estádio da Luz ou Coldplay no Estádio de Coimbra. A razão pode passar pela repetição dos artistas.

Quando não existia Altice Arena, não existia um grande pavilhão em Portugal onde os principais artistas internacionais passavam regularmente. Restavam os festivais e os estádios para ver os grandes concertos dos grupos que por cá passavam. Hoje em dia com bons pavilhões tanto a sul como no norte, é regular a passagem dos artistas que outrora só veríamos nos festivais.

Para além disso, os festivais não apostam em artistas globais, que hoje em dia estão mais dedicados a fazer estádios com produções mais esmeradas, deixando os festivais para uma segunda linha. Esta segunda linha chega a vir a Portugal, 3 ou 4 vezes em 5 anos, variando os festivais com concertos de pavilhão, levando que as pessoas não gastem 70 80 90 euros para ver o cabeça de cartaz que poderão ver no ano seguinte por metade do preço num pavilhão.

Qual o futuro dos festivais em Portugal

Apesar de em 2025, os festivais não terem tido o seu melhor ano, até porque os cartazes que foram apresentados não chamaram as pessoas como era suposto, continua a pensar-se que Portugal continuará a ser um excelente destino para ver festivais de música.

Apostando na internacionalização dos nossos festivais, o turismo da música será cada vez mais um objetivo dos promotores de festivais que não vêm o festival apenas como uma festa para portugueses, mas uma forma como atrair turistas. Esta atração de turismo, poderá levar a um maior patrocínio por parte dos municípios locais, levando a uma mudança de recinto como aconteceu no passado com o Super Bock Super Rock, ou aconteceu com o Rock in Rio.

A aposta nos festivais de média dimensão poderá ter também frutos a médio prazo, levando as cidades de média dimensão a fomentarem os seus eventos não estando dependentes dos grandes promotores. o Festival do Crato ou o Festival F são duas excelentes provas que a atração de públicos sem ser da região depende apenas da boa organização e comunicação por parte das câmaras locais.

A tendência para a “festivalização” das festas locais, poderá levar a um cada vez maior crescimento e divulgação de festividades outrora não conhecidas que passam a ser conhecidas por causa de um maior investimento por parte das autarquias e das organizações e patrocinadores locais.